quarta-feira, 23 de julho de 2014

Crônica - Sinais do tempo.

Tudo estava pronto para a grande festa anual dos sinais gráficos. A comissão organizadora, formada pelo cifrão ($), pelo e comercial (&) e pelos dois parênteses (( )) tinha decidido que os pontos finais não seriam convidados e, se viessem, não entrariam. “São muito chatos, a todo momento entram na conversa dos outros paralisando as frases, que ficam cortadas, sem sentido”, justificou o cifrão.
Durante a festa, os sinais formavam rodinhas de bate-papo. Alguns alegres, outros tristes. A arroba (@), por exemplo, era de longe a mais feliz entre os convivas. Com a internet, estava sendo utilizada em todo o mundo. “Eu que cheguei a pensar que não mais seria usada para alguma coisa, além do preço do boi na bolsa, eis que a internet me rejuvenesceu”.
O trema (¨), coitado, era só tristeza. Usando sua linguagem erudita, lamentava para a crase. “Estou fenecendo a cada dia solerte amiga. Poucos me utilizam. Os jornais, então, quase todos aboliram-me. E o pior. Às vezes usam-me em cima de outras letras que não o U, em palavras de línguas estrangeiras, principalmente as bárbaras europeias, que não provêm do nosso saudoso latim”. A crase, que também tinha seus problemas, respondeu: “E eu, que quase ninguém sabe usar corretamente”.
A vírgula, trajando vestido roxo e longo, realçando suas formas curvilíneas, comentava com o dois pontos. “Caro colega, é impressionante como tem gente que me usa em excesso, me colocam até entre o sujeito e o verbo. Imagine você, fiquei sabendo de um leitor que ficou asmático depois de ler o livro de um escritor que me usava em profusão”.
A festa continuava. A orquestra tirava de letra as músicas, os convidados dançavam e bebiam. O ponto de exclamação (!), um dos mais esbeltos e elegantes, com seu smoking preto, perguntou à cedilha. “Parabéns por ter vindo desacompanhada do C”. Ela respondeu: “Você continua o mesmo galante de sempre e esta festa é o único lugar em que eu tenho sentido sozinha”.
De repente, na portaria do salão, veio o barulho de um entrevero entre um convidado e o ponto de interrogação (?), responsável pela segurança. “Ponto final não foi convidado, não pode entrar.”, bradou o interrogação, curvando-se ao baixinho bravo. “Meu amigo, procure entender, eu não sou ponto final. Sou asterisco (*). É que tive a horrível ideia de passar gel nos cabelos”.
NUNES, Otávio. Disponível em: <http://migre.me/dj8xs>. Acesso em: 14 mar. 2011.

ATIVIDADES.
1. Por suas características, esse texto é um exemplo de
A) crônica literária.
B) fábula.
C) lenda.
D) resenha crítica.
E) romance.

2. De acordo com esse texto, o asterisco foi impedido de entrar no salão porque
A) era baixinho.
B) era chato.
C) estava parecido com o ponto final.
D) estava triste.
E) veio desacompanhado do C.

3. Nesse texto há uma opinião em:
A) “Tudo estava pronto para a grande festa anual dos sinais gráficos.”.
B) “‘São muito chatos, a todo momento entram na conversa dos outros...’”.
C) “‘Estou fenecendo a cada dia solerte amiga. Poucos me utilizam.’”.
D) “‘Às vezes usam-me em cima de outras letras que não o U,...’”.
E) “‘Meu amigo, procure entender, eu não sou ponto final.’”.

4. De acordo com esse texto, o sinal gráfico que usava uma linguagem erudita era
A) a arroba.
B) a crase.
C) a vírgula.
D) o asterisco.
E) o trema.

5. Nesse texto, as aspas foram usadas para
A) destacar o uso de expressões de tom irônico.
B) introduzir uma informação complementar.
C) isolar uma frase do texto.
D) marcar a fala das personagens.
E) ressaltar uma crítica.

6. No trecho “O ponto de exclamação (!), um dos mais esbeltos e elegantes, com seu smoking preto, perguntou à cedilha.”, o recurso estilístico que se destaca é
A) a comparação entre as personagens.
B) a personificação de seres inanimados.
C) a presença de ironia.
D) o exagero na descrição das personagens.
E) o uso de repetições.

6. No trecho “'Você continua o mesmo galante de sempre...'”, o termo destacado faz referência ao
A) asterisco.
B) cifrão.
C) ponto de exclamação.
D) ponto de interrogação.
E) trema.

7. No trecho “A arroba (@), por exemplo, era de longe a mais feliz entre os convivas.”, a expressão destacada foi usada para
A) destacar uma ação concluída.
B) enfatizar uma característica.
C) indicar distância.
D) marcar ironia.

E) sugerir indiferença.
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RETIRADO DE: http://diogoprofessor.blogspot.com.br/2014/03/atividade-sobre-o-genero-textual-cronica.html

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